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O caminho estreito na recuperação do adicto - Mateus 7,12-14

Postado em 20/10/2022

O caminho estreito na recuperacao do  adicto - Mateus 7,12-14

Autor: Dr. Silvestre Falcão Santana

Este Evangelho traz uma sábia mensagem para quem quer fazer uma
verdadeira recuperação da dependência química. E esta recuperação
não é dada, não é oferecida, mas sim, construída passo a passo, a
cada dia, em que o adicto se torna o protagonista em fazer uma nova
história de vida. Numa verdadeira recuperação a pessoa coloca todo
seu empenho e esforço.

O dependente químico ao fazer uso de drogas apresenta
comportamentos desregrados agindo sempre com intenções que
sejam convenientes à manutenção de sua ação adictiva.

Ações estas que nos fazem lembrar-se da passagem do Evangelho sobre a porta
larga e caminho espaçoso. Na dependência química a pessoa
funciona alargando seus impulsos expressos em palavras e ações, de
forma sempre desmedida. Ela se torna espaçosa, buscando sempre o
proveito próprio numa direção em que sua doença seja alimentada.

Os adictos na ativa não conseguem zelar-se cuidando de sua saúde,
de sua vida financeira, profissional e familiar. É comum que eles
venham sempre subtrair o que pertence ao outro em favorecimento
ao seu comportamento adictivo e ao seu consumo de drogas. Eles
colocam sempre o desejo próprio acima do outro fazendo prevalecer
suas vontades segundo seu tempo (imediatista) e da sua forma
(inadequada).

Mas certamente tal vontade é comprometida pela
energia da fixação e compulsão de sua doença adictiva. Ex: é como
uma pessoa que sabe nadar e de forma inconseqüente nada sem
parar em direção cada vez mais distante da praia, chegando num
ponto bem distante da praia, encontra-se cansado e afunda por não
ter lugar nenhum para apoiar-se.

O adicto sempre quer meios mais fáceis para agir. E na recuperação
a dificuldade é condição para restauração.

Não é fácil restaurar o que
foi desconstruído e deformado durante o uso e abuso de drogas.

Também não é fácil ter que administrar uma vida nova com toda
uma conduta de condições de abstinência e sobriedade.

Para restaurar uma obra de arte o artista planeja o que vai fazer, ele
se envolve emocionalmente raciocinando todo o preço de seu
investimento. Assim deve ser o adicto em recuperação verdadeira:
deve manter um firme propósito e ter um forte desempenho num
processo transformativo levando-o a um novo estilo de vida. Mas
vale lembrar que durante o tempo de recuperação para o adicto tem
coisas que ele conseguirá restaurar e outras não, se tornando
fundamental trabalhar a aceitação e frustração.

O adicto em recuperação precisa além de trabalhar questões não
resolvidas do seu passado, precisa também aprender a administrar de
forma saudável às novas situações de sua vida, sem se arvorar em
alargar suas emoções e atitudes, nem indo além do que lhe é
possível e do que lhe convém. Também deverá sempre evitar
invadir, manipular ou roubar o que é de direito do outro. Deve
aprender a construir uma nova história, limitando-se ao seu real
tamanho, mesmo que ainda necessite do apoio de outras pessoas e
grupos.

Como normalmente o adicto na ativa, através da comodidade e
facilidade abusou de outras pessoas, principalmente dos que foram
acometidos pela codependencia, preferindo sempre trilhar por
caminhos largos, sua recuperação certamente deverá ser vivenciada
como a passagem em uma porta estreita, o que para ele será bem
desconfortável pelo fato de ainda não ter tido esta experiência
registrada dentro de si.

A experiência de passagem em porta e caminho largo são
características do comportamento do adicto que quer fazer tudo do

desmedidamente, inconseqüentemente e irresponsavelmente. O
saldo desse seu comportamento é sempre negativo. Todo seu
aparente ganho certamente o levará a perdas e derrotas em todas as
áreas de sua vida.

Para passar pela porta e pelo caminho estreito é preciso ter
humildade de reconhecer que tudo que é de fácil acesso e rápido é
de grande risco.

É preciso reconhecer que a doença está dentro de si
e querendo agir o tempo todo através de pessoas e situações.

É estreita a porta e apertado o caminho do adicto em recuperação,
pois, através da sua determinação e empenho de pensar e agir
diferente, ele vivenciará desafios diante de tribulações e tentações.

A dor da recuperação consiste no desconforto de se desadaptar dos
velhos hábitos, fazendo reparações e funcionando de forma diferente
o que não é fácil. Conversão é algo difícil e só acontece em quem se
determina e toma coragem.

É preciso adicto se perguntar se quer
fazer sua recuperação baseada nas dificuldades ou nas facilidades.

Está disposto a passar pela dor, angústia e desconforto da
recuperação?

Mas é através da dor e do desconforto é que nós nos lapidamos e nos
moldamos em algo melhor.

Somos como vasos deformados
(rachados, trincados) que o oleiro quer moldar, tratar e cuidar de
cada um de nós. E este oleiro é sempre o outro que nos quer bem.

Por isto que poucos passam na porta e caminho estreito, e os que
passam também poucos permanecem. Jesus é o oleiro que nos
transforma através de sua Palavra.

Para o adicto não existe uma terceira opção. Ou ele opta em fazer ou
não fazer sua recuperação. E se ele não quiser fazer sua recuperação,
optando pelo caminho largo certamente estará cavando seu fundo de
poço que é o que Jesus chamou de perdição.


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