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Desgaste da família do adicto

Postado em 20/10/2022

Autor: Silvestre Falcão Santana (Psicólogo e Doutor em Psicologia Social)

O adicto funciona com a família agindo sempre
com tentativas de manipulação, com objetivo de
obter o que lhe é conveniente. Com isto sua família
experimenta o sofrimento ao se tornar vítima de
suas atitudes adictivas, mas mesmo assim faz
qualquer esforço para tentar salvar o seu
dependente químico.

A doença do adicto adoece também a família. O
caráter e o comportamento adictivo fazem destruir
o vínculo familiar. Em muitas famílias ocorre de
chegar o extremo deles preferirem ver seu adicto preso ou
morto a continuar nos prejuízos decorrentes da
ativa dele, isto ocorre por causa dos cansaços e
dores experimentados.

O familiar co-dependente geralmente protege,
encobre, omite, preserva e assume as
conseqüências das atitudes nocivas do seu
dependente químico. Isto o faz não identificar, não
se preocupar e nem se comprometer com as
conseqüências de seus próprios atos.
Em conseqüência do uso e abuso de drogas o
vínculo da família com o dependente químico é
desgastado, o que compromete a continuidade de
da relação afetiva. Em função deste desgaste a
família passa a querer ajudar o adicto não somente
pelo amor que sentem por ele, mas também por
estarem cansados e sentirem-se ameaçados na
decomposição da rede familiar.

O adicto na ativa não tem o direito de perturbar a
família, mas tem o poder de atormentá-los, de
forma a enfraquecer ou mesmo deteriorar todo elo
afetivo existente. Quando se está em recuperação
este afeto pode ser resgatado. A instituição de
tratamento oportuniza e viabiliza o processo deste
resgate, mas para que isto aconteça é preciso que
a família participe ativamente deste processo.

O familiar sofrido transforma seu amor em
ressentimento, a aproximação em distância, a
presença em ausência para se defender de sua dor
em relação ao seu dependente químico. Uma
verdadeira recuperação deve se estender não
somente ao adicto, mas também ao seu familiar
resgatando o amor e o diálogo.

É comum a família sustentar a falsa crença que
basta seu adicto ficar certo tempo no tratamento
para se recuperar. O adicto e seu familiar devem
ser agentes ativos do processo de recuperação
tanto durante o tratamento quanto no pós-
tratamento que deve ser sem limite de tempo.
Também é comum a família no tratamento do seu
adicto ter a falsa crença de que o problema e o
tratamento pertencem somente a ele de forma que
eles se sentem descansados enquanto o adicto
permanece abstênio.

É fundamental para os familiares adquirirem a consciência de que
precisam trabalhar as feridas deixadas pelo
comportamento adictivo, assim como também
devem conhecer e usarem instrumentos que os
façam evitar atitudes de co-dependência.

A família e o adicto em recuperação devem ser
honestos e responsáveis com o que pensam e
sentem na relação entre eles. A honestidade e a
responsabilidade devem ser a base de toda
comunicação e interação. Como a doença da
dependência química é incurável e traiçoeira, cabe
ao familiar evitar confiar no adicto, devendo sim
oportunizá-lo meios de vivenciar uma nova
maneira de funcionar.

O familiar que não participa do processo de seu
adicto em tratamento promove uma lacuna em sua
recuperação, colocando-o em estado de risco na
manutenção do seu pós-tratamento no que diz
respeito às questões familiares.

Se o familiar em sua co-dependência tiver uma
relação simbiótica com seu adicto, o tratamento se
tornará muito mais difícil e complexo, impedindo-o de
assumir a própria decisão de sua recuperação e
transferindo suas responsabilidades sempre para
seu familiar. A probabilidade será de ele substituir
a dependência dos químicos para a dependência
familiar, como também ter atitudes configurando uma moeda de troca..

Durante o período de tratamento é comum
acontecer de alguns familiares transferirem toda a
responsabilidade do tratamento para a Instituição e
para o seu adicto. É preciso que o familiar trabalhe
a consciência de sua própria responsabilidade na
recuperação, se colocando como parte significante
deste processo. E quando o adicto se coloca como
protagonista em fazer sua recuperação ampliando
seu repertório de trabalho terapêutico é normal
que ele deseje que sua família também seja
trabalhada.

Para concluir: quanto mais o adicto que estiver em
sua ativa agir mantendo o controle de
manipulações, mais frágil estará sua família, e
quanto mais no controle estiver sua família, mais
frágil estará o dependente químico em suas
manipulações adictivas.


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