Conhecimento e Sabedoria na Recuperação do Dependente Químico - Mateus 11,16-19
Postado em 21/10/2022
Conhecimento e Sabedoria na Recuperação do Dependente Químico - Mateus 11,16-19
Autor: Dr. Silvestre Falcão Santana
Este Evangelho nos fala sobre a incoerência e o
contraditório.
As pessoas espiritualmente cegas,
deturpam e distorcem aquilo que é claro, que é
visível e que tem direção certeira.
Quando se toca flauta, sugere que se dança.
Quando se entoa lamentações, sugere-se
arrependimento.
Jesus Cristo que comeu e bebeu com os
pecadores foi tachado de comilão e beberrão.
O olhar dos que julgavam Jesus deturpava o que ele
falava e de como agia.
As pessoas espiritualmente
cegas se mantêm na ignorância e ficam na
escuridão sem direção, pois não tem a luz do
Evangelho.
A doença da DQ tem o poder de distorcer e
desequilibrar toda a vida do usuário de drogas,
tornando-o incoerente em tudo o que deveria ser
coerente.
O adicto na ativa funciona sempre na
tentativa de deixar seus atos às escuras e de
distorcer e maliciar as situações que passa com
ele. Fala e age de uma forma, mas a intenção e o
pensamento é outro.
Nesta passagem do Evangelho se encontra a
hipocrisia do adicto de quando está na ativa.
A pessoa sábia tem coerência e sintonia entre o que
fala, pensa e age. E esse exercício é fundamental
para todo adicto que se encontra em recuperação,
devendo ele sempre refletir, se há coerência entre
sua fala, pensamento e ação.
É incoerente tocar a flauta e não dançar, fazer
lamentação e não bater no peito.
O adicto na ativa se acostumou a ser incoerente
com as pessoas que ele convivia; mentindo,
omitindo, roubando, camuflando, manipulando, e
ao mesmo tempo fazendo cenas contrárias a tudo
isto.
Tais atitudes não eram baseadas na sabedoria
de comportamentos sóbrios.
Na Bíblia encontramos várias passagens sobre a
sabedoria.
Por mais que seja bom e necessário o
conhecimento, não se deve confundi-lo com a
sabedoria.
O entendimento alcança a formação do
indivíduo com seus esquemas mentais de teorias
que foram repassados pelo que se viu e ouviu.
A sabedoria ultrapassa o conhecimento e ela é ligada
diretamente com sua fonte que é Deus.
O conhecimento gerado pela auto-suficiência faz
produzir distorções e incoerências sobre o que se
pensa, o que se fala e como se age.
Enquanto a sabedoria surge da experiência, o
conhecimento surge das palavras.
Na sabedoria existe uma meta, um propósito e um alvo a seguir,
já o conhecimento pode ser construído sem ter uma meta, um propósito e um alvo. O
conhecimento se constrói para o melhor
entendimento do passado e do presente, e claro,
podendo oferecer algo para o futuro, mas é
importante lembrar que ele não tem tanto poder de
transformação quanto a sabedoria.
Muitos adictos recaem depois de um tratamento
pelo fato de sua recuperação estar fundamentada
somente no conhecimento que obteve sobre sua
doença.
É importante ter conhecimento sobre a
dinâmica da doença da dependência química, mas
este conhecimento não é suficiente para que
ocorra uma transformação de vida.
A sabedoria faz a pessoa experimentar e funcionar com o
conhecimento adquirido, de forma que ela vai se
diluindo na pessoa que a tem e impregnando sua
mente, sua fala, seu ouvir e seu agir.
O dependente químico em recuperação deverá
estar consciente em decidir se quer pautar sua
recuperação em conhecimentos ou em sabedoria.
O conhecimento reside na mente, e a sabedoria
reside nas entranhas.
Uma coisa é saber sobre abstinência, sobriedade, recuperação, prevenção
de recaída, e os doze passos de AA e NA, e outra
coisa é viver praticando tudo isto.
O conhecimento leva a caminhos questionáveis,
enquanto a sabedoria direciona a caminhos retos.
A sabedoria é um ir além que funciona como uma
poderosa ferramenta na recuperação.
Dentro do tratamento é preciso ter o discernimento
de que as ferramentas dadas chegam somente até
o entendimento; o que é pouco. Mas com a
sabedoria, as ferramentas utilizadas no tratamento,
promovem a introjeção de novos recursos com
ação transformadora.
O entendimento é baseado nas teorias enquanto a
sabedoria é baseada em obras.
A sabedoria só é reconhecida quando ela é testificada nos atos.
Somos convidados a vivenciar o poder da
sabedoria em obras para nós mesmos e para o
próximo.
Para o adicto que se ancora somente em
seus conhecimentos sobre a doença a
probabilidade de recaída é maior.
O conhecimento não marca e efetiva obras diferentes, mas a
sabedoria tem um potencial de efetivar o que o
recuperando absorveu em seu investimento.
O valor do conhecimento consiste na obtenção de
novos registros, enquanto o valor da sabedoria
consiste no acionamento desses registros no
cotidiano do sujeito. O conhecimento ajuda a
juntar verdades, a sabedoria vem apurar, discernir
tais verdades.
Para Refletir:
1- Faça um exame de consciência e relate suas
incoerências e distorções da época de ativa?
2- Quais eram os mecanismos na sua conduta
adictiva, que você usava para encobrir suas
incoerências e distorções?
3- Partilhe com mais dois companheiros a
diferença entre o conhecimento e a sabedoria
na recuperação?
4- Descreva e depois leia para alguem o que você
adquiriu de conhecimento da sua recuperação
e o que você experienciou de sabedoria